Valmor Bolan
Trabalho digital ou escravidão digital?
Valmor Bolan
Doutor em Sociologia, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras
Como ficará o trabalho com as inovações da quarta revolução industrial? Esta questão tem sido objeto de reflexão, no mundo todo, diante da aceleração das transformações que estamos vivendo, com a irrupção tecnológica em curso. Também houve mudanças nos processos anteriores, em cada uma das três fases das revoluções industriais, que desde o século 18 vem desafiando a criatividade humana, buscando conciliar o progresso, o avanço da ciência, com a preservação dos valores humanos. O diagnóstico da situação e as perspectivas da nova realidade que está se impondo, trazem preocupações, mas requerem também respostas objetivas e inteligentes. Mas o fato é que há muitos questionamentos feitos sobre os aspectos desumanizadores desse processo, principalmente relacionados com o trabalho.
O professor Ricardo Antunes é responsável pelo Grupo de Pesquisa Metamorfoses do Mundo do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e está lançando um livro com 600 páginas, Icebergs à deriva: o trabalho nas plataformas digitais, pela Boitempo Editorial. Na obra, ele faz uma análise sobre "os rumos do mundo do trabalho em uma sociedade 'iberizada'", aonde quem trabalha mais de seis, oito, dez, 12 horas _ já entrevistei uma pessoa que fez uma jornada de 20 horas _ está em situação de escravidão digital, afirma o autor. O futuro do trabalho, portanto, para Ricardo Antunes, é desolador, sob esse aspecto. Para ele, "em síntese, a indústria 4.0 automatiza, robotiza e 'internetiza' as empresas. Portanto, ela desemprega", raciocina o coordenador do trabalho.
Nesse sentido, é preciso que saibamos encontrar um meio termo, aproveitando as potencialidades tecnológicas, que propiciam tantas oportunidades, mas também que a sociedade não seja submetida a esta "escravidão digital". O desafio de manter os direitos conquistados, buscando preservar a dignidade das pessoas e das famílias, se apresenta como prioridade, porque a tecnologia está para promover a vida do ser humano e não se voltar contra ela. Certamente encontraremos alternativas que irão requerer novos esforços e lutas para prevalecer o melhor na promoção da vida humana. É o que esperamos.
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